As diferenças genéticas entre homens e mulheres são mais
amplas e profundas do que se acreditava. Uma análise detalhada do cromossomo X —
o cromossomo sexual feminino — revelou que as mulheres são geneticamente mais
complicadas do que os homens. Os cientistas descobriram que os homens têm uma
constituição genética que reduziu o tamanho de seu próprio cromossomo sexual, o
Y.
A batalha dos sexos no reino animal tem suas raízes numa
disputa de 300 milhões de anos entre os cromossomos X e Y, que têm disputado a
influência sobre gerações de machos e fêmeas. Num estudo publicado na revista
britânica “Nature”, uma equipa internacional mostrou que foi o cromossomo X que
manteve a sua integridade, enquanto que o Y perdeu tamanho e poder, tornando-se
uma mera sombra da sua antiga forma.
O estudo foi a primeira investigação detalhada dos genes ativos
no cromossomo X. Uma consequência da dominância do cromossomo feminino é que os
meninos são mais sujeitos a doenças genéticas do que as meninas. Enquanto o Y
manteve menos que 100 genes ativos, o X contém mais de mil e é capaz de
distribuí-los de forma mais complexa nas mulheres. Isso faz com que o genoma da
mulher tenha se tornado significativamente diferente do masculino.
Enquanto a mulher tem dois cromossomos X, o homem tem apenas
um, herdado da mãe. O segundo cromossomo sexual do homem é o Y, herdado do pai.
Acredita-se que o Y tenha evoluído de uma forma degenerada do X, há 300 milhões
de anos.
Huntington Willard, da Universidade de Duke, na Carolina do
Norte (EUA), e um dos líderes da pesquisa, disse que a descoberta mostra que
nas mulheres o cromossomo X comporta-se de forma muito diferente da observada
nos homens.
— Em essência, não há apenas um, mas dois genomas humanos,
um masculino e outro feminino — disse Willard.
Supunha-se que uma das duas cópias do X na mulher se
mantinha completamente desativada para que corpo feminino não fosse inundado
com duas vezes mais genes do X que os homens. Porém, a pesquisa mostrou que só
65% dos genes são desativados. Os demais podem estar ativos em algumas
situações, o que poderia explicar algumas diferenças entre os sexos não
relacionadas a hormônios. Noutras palavras, diferenças físicas e emocionais
entre os sexos podem ter uma origem muito mais profunda.
Além disso, como as meninas têm dois X, defeitos de uma das
cópias podem ser corrigidos pela outra. Porém, como os meninos têm apenas uma,
eles podem sofrer de doenças hereditárias quando há falhas no X. Exemplos são
hemofilia, daltonismo e distrofia muscular de Duchenne. O cientista Mark Ross,
do Wellcome Trust, disse que mais de 300 doenças foram associadas a falhas no
X. Além disso, 40 genes isolados estão relacionados a condições como lábio
leporino e cegueira.
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